Crianças e as telas

A explosão de produtos tecnológicos e telas na vida das crianças é conhecido por todos. Por “telas”, estou me referindo à televisão, computadores, notebooks, videogames, tablets, smartphones e joguinhos eletrônicos portáteis. Além de muitos adultos ficarem grudados aos tablets e smartphones, as telas parecem ocupar boa parte do tempo também das crianças. Muitos pais têm dúvidas de quanto tempo devem deixar as crianças na frente das telas ou qual a melhor idade para dar um smartphone.

As telas já são tão comuns e fazem parte da nossa vida de um modo tão importante que as pessoas nem pensam mais sobre elas. Estão se tornando parte da vida de todos, basta ver como cresceram as vendas de smartphones, no Brasil e no mundo todo. Por isso, pode ser que os pais até se esqueçam de perguntar sobre o tempo ideal de tela para seus filhos. Ou será que têm receio de ouvir a resposta? Talvez achem que vou pedir para não ligar mais a televisão e tirar o tablet das crianças. Isso seria muito difícil, certo? Temos que dar o braço a torcer, os smartphones, tablets e joguinhos atuais são incríveis! Além disso, podem ser bastante úteis, são muito envolventes e até podem ser educativos. E todos sabemos que crianças felizes deixam os pais felizes, não é?

A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Academia Americana de Pediatria é que crianças abaixo de 2 anos não tenham tempo de tela. Acima de 2 anos, o tempo deve ser limitado. Essas recomendações visam reduzir o risco futuro de obesidade, problemas comportamentais e problemas escolares, e há estudos comprovando isso. As recomendações de tempo de tela, por idade, são:

  • Abaixo de 2 anos: sem tempo de tela (ou apenas videochamadas para pessoas queridas)
  • Crianças de 2 a 5 anos: 1 hora de telas por dia, ou menos, junto com um adulto
  • Crianças de 6 a 10 anos: 2 horas de tela por dia ou menos, com supervisão de um adulto
  • Adolescentes a partir de 11 anos: até 3 horas por dia, e nunca deixar “virar a noite” jogando

Os pais devem sempre saber o que as crianças estão assistindo. Podem ficar expostas a:

  • Violência e comportamentos de risco
  • Desafios que não sejam seguros
  • Conteúdo de cunho sexual
  • Uso de drogas, lícitas e ilícitas
  • Cyberbulling
  • Propagandas e marketing direcionado às crianças
  • Informações incorretas ou falsas

O excesso de telas pode causar efeitos negativos nas crianças, como:

  • Problemas de sono
  • Alterações de humor, irritabilidade e prejuízo à saúde mental
  • Piores notas na escola
  • Menos tempo com familiares e amigos
  • Piora das habilidades cognitivas, diminuição da atenção, habilidade de leitura e desenvolvimento da linguagem
  • Problemas sócio-emocionais e até físicos, como obesidade, baixa autoestima, depressão, ansiedade e comportamento agressivo
  • Poucas atividades ao ar livre e esportivas
  • Problemas oculares
  • Não saber como se divertir ou relaxar sem telas

Resolvi então escrever alguns tópicos que podem ajudar, e isso não quer dizer proibir completamente as telas:

1) Seja criterioso no que permite que as crianças façam no computador ou tablet. Tão importante quanto o tempo gasto, é saber o que estão fazendo. Escolha programas, filmes, jogos e aplicativos com cuidado. Passar o dia jogando Candy Crush não acrescenta nada a ninguém! Existem programas, jogos e aplicativos que podem ser mais instrutivos.

2) Converse com seus filhos sobre isso. Converse sobre a utilidade e uso adequado de cada equipamento. Converse sobre os riscos, ensinando a nunca postar dados pessoais (endereço, escola, etc), não conversar com estranhos também na internet, e que os dados postados podem causar um estrago permanente (talvez nunca se consiga apagar uma foto postada na internet).

3) Não deixe as telas atrapalharem a hora de dormir. Isso está se tornando um problema realmente sério! As crianças dormem cada vez mais tarde: só até acabar o programa, só até acabar uma conversa, só até acabar a fase do joguinho. A agitação causada pela atividade e a própria luz do dispositivo “acordam” o cérebro, deixando mais difícil o sono chegar. O ideal seria não ter televisão nos quartos das crianças, e desligar as outras telas uma a duas horas antes de dormir. Não esquecer também de desligar o celular durante a noite.

4) Não substitua outras atividades pelo uso das telas. Atividades como leitura, exercícios, construir coisas ou interagir com outras pessoas não devem ser deixadas de lado. Os esportes são essenciais para a saúde e o desenvolvimento das crianças.

5) Não deixe as telas atrapalharem os relacionamentos. Não é raro ver duas pessoas juntas, cada uma mexendo no seu celular ao invés de interagirem. É especialmente triste quando são os pais mexendo no celular ao invés de interagir com os filhos. Sempre que puderem interagir com outras pessoas, oriente desligar o tablet ou smartphone.

6) Não usar telas durante as refeições e passeios em família. Limitar o seu próprio tempo de tela, dando o exemplo.

É isso. Podemos conversar sobre um vídeo super engraçado que vimos no YouTube, ou a imagem que recebemos no WhatsApp, pois tudo isso faz parte de nossas vidas. Porém, use com moderação!

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Foto de Dr. Carlo Crivellaro

Dr. Carlo Crivellaro

CRM 72.688 (SP) RQE 34.876 E-mail: drcarlo@drcarlo.com.br

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