A gagueira pode ser uma barreira para o desenvolvimento social da criança. Apesar de o distúrbio algumas vezes não ter cura, é possível conviver bem com ele.
Quando a gagueira da criança deve ser motivo de preocupação?
Algumas crianças podem apresentar uma disfluência fisiológica, em geral entre dois e quatro anos. Na maioria das vezes, isso ocorre porque a criança ainda não domina o vocabulário necessário. Às vezes acontece também por alterações de cunho emocional como, por exemplo, o nascimento de um irmão ou desajuste no relacionamento dos pais.
A disfluência patológica (gagueira) deve ser motivo de preocupação quando a criança está consciente da dificuldade e luta para falar.
Qual a idade limite para determinar essa diferença?
O fator determinante não é a idade, mas sim os sintomas que a criança apresenta, o seu histórico de vida e a genética. Esses fatores pesam mais do que a idade e são determinantes na indicação ou não de um tratamento fonoaudiológico.
Quais sintomas precisam ser observados?
Os principais sintomas são a repetição de sons, sílabas, pausas silenciosas durante a comunicação, mudança nas expressões faciais ao se comunicar, agressividade e choro. Pode associar à fala movimentos faciais e/ou corporais.
A insegurança é um fator preponderante para o desencadeamento da gagueira?
A gagueira é involuntária. Não é um hábito adquirido ou uma desordem relacionada a um distúrbio emocional. Para traçar o diagnóstico de disfluência (gagueira), é feita a avaliação dos três “P”s: o fator predisponente (predisposição genética), o fator precipitante (o ambiente externo) e o fator perpetuante (as razões que mantêm o problema). A criança predisposta descarrega a tensão na fala e não em outro órgão do corpo e, como costuma ficar gaga nesses momentos, isso acaba gerando insegurança.
Quais são as maiores dificuldades para o diagnóstico precoce?
A identificação e avaliação precoce são muito importantes para o sucesso do tratamento. Entretanto, muitos pais demoram a procurar a orientação de um fonoaudiólogo, o que acaba gerando prejuízos individuais e até psicossociais para a criança. O pediatra pode auxiliar os pais na identificação dos sintomas e conscientizá-los da importância da identificação precoce do distúrbio da fluência.
Muitas crianças são alvo de bullying na escola. Há alguma técnica que ajude no equilíbrio emocional da criança?
O melhor para a criança é assumir a gagueira. Dessa maneira, saberá lidar melhor com as suas limitações. Além disso, o apoio profissional, familiar e escolar é muito importante no tratamento, por isso é fundamental o acompanhamento do fonoaudiólogo. Quando a criança não consegue lidar emocionalmente com as situações na escola e enfrenta preconceito, a psicoterapia também pode ajudar.
Como ajudar?
Manter contato visual com a criança, encorajando-a a falar, e demonstrando interesse e prazer em escutá-la. Preste mais atenção ao conteúdo do que à forma como a criança fala, e ajude ela a falar mais calmamente, fazendo também pequenas pausas antes de responder. Reserve um tempo diariamente para dar atenção à criança, fale com ela corretamente, leia e conte histórias.
O que pode prejudicar?
A criança não gagueja de propósito e nem quer gaguejar. Portanto, nunca chame a atenção, grite ou faça a criança se sentir envergonhada ou diminuída. Nunca chame a criança de gaga ou fale: “calma”, “relaxa” ou “pensa antes de falar”! Nunca complete o que a criança está tentando falar, interrompa ou apresse, dizendo: “fala logo” ou “desembucha”! Evite falar muito rápido com ela, ou usando palavras muito difíceis para a idade dela. Não a obrigue a falar em público. Não exija demais e também não superproteja, não faça comparações com outras crianças. Não demonstre preocupação exagerada com a gagueira na frente da criança e evite dar atenção à criança somente quando ela gagueja.